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Análise: Por que as pequenas e médias empresas estão perdendo competitividade?

Análise: Por que as pequenas e médias empresas estão perdendo competitividade?

16/01/2015 às 09h45
Por: jornalcontabil
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Uma pesquisa recentemente concluída pelo meu escritório de consultoria procurou mapear os modelos de gestão adotados por empresas de pequeno e médio porte e os resultados encontrados permitiram traçar um perfil gerencial e abrir discussões para compreender os reflexos que tais modelos trazem para a competitividade dessas organizações .

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Sem a pretensão de sustentação científica, a relevância desta pesquisa prende-se na realidade enfrentada por organizações desse porte que convivem, nos dias atuais, com sérios problemas de competitividade em função de ameaças internacionais e aumento do poder de barganha de grandes clientes e fornecedores, baixa qualidade de recursos humanos e imensa dificuldade de contratação e retenção de talentos e uma necessidade urgente de crescimento sustentável.

Os resultados desta pesquisa serão apresentados em partes e, apesar de estarem expressos de forma quantitativa não podem ser considerados como tendências para todo o universo de pequenas e média empresas do Brasil em função do tipo de pesquisa realizada (pesquisa exploratória) e da pouca representatividade da amostra pesquisada (apenas 52 empresas nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e São Paulo selecionadas sem a utilização de critérios científicos de amostragem).

Apesar disto, os resultados encontrados abrem uma boa discussão sobre o modelo de gestão adotado por empresas destes segmentos e, podem sim, ser considerados como base de análise das razões pelas quais essas organizações vêm perdendo competitividade ao longo das últimas décadas.

A) Objetivo principal da pesquisa

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  • Mapear as práticas gerenciais nas diversas dimensões de gestão empresarial.

B) Tipo de pesquisa realizado e período da pesquisa

  • Observação e entrevistas pessoais e por telefone, entre os meses de agosto a dezembro de 2014.

C) Público entrevistado dentro das organizações

  • Empresários e gestores das áreas (quando existiam de forma explícita).

D) Características da amostra pesquisada

D.1) Quantidade de empresas pesquisadas

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  • Foram pesquisadas 52 empresas de pequeno e médio portes localizadas nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e São Paulo.

D.2) Setor e faturamento

  • 32 indústrias com faturamento entre R$ 28M e R$ 210M;
  • 08 prestadoras de serviço com faturamento entre R$ 1,8M e 14M;
  • 12 comércios com faturamento entre R$ 1,1M e R$ 3M.

E) Resultado operacional da amostra pesquisada

E.1) EBITDA das indústrias acumulado até novembro de 2014

  • 9,38% (3) – acima de 10%;
  • 12,50% (4) – entre 5% e 10%;
  • 21,88% (7) – entre 0% e 4,99%;
  • 56,24% (18) – abaixo de 0%.

E.2) EBITDA das prestadoras de serviço acumulado até novembro de 2014

  • 62,5% (5) – acima de 10%;
  • 25% (2) – entre 5% e 10%;
  • 12,5% (1) – entre 0% e 4,99%;
  • 0% – abaixo de 0%.

E.3) EBITDA dos comércios acumulado até novembro de 2014

  • 0% – acima de 10%;
  • 25% (3) – entre 5% e 10%;
  • 41,67% (5) – entre 0% e 4,99%;
  • 33,33%(4) – abaixo de 0%.

F) Resultado líquido da amostra pesquisada

  • Do total de empresas pesquisadas 80,77% (42) apresentava prejuízo acumulado até novembro de 2014;
  • Apenas 6 prestadoras de serviço, 3 indústrias e 1 comércio registraram lucro acumulado até novembro de 2014.

G) Práticas de Gestão adotadas pela amostra pesquisada

Parte 1 – Gestão financeira, capital e custos

Nesta dimensão de gestão, procurou-se discutir os seguintes temas:

G.1) Financiamento do capital de giro e investimentos: A empresa utiliza capital próprio, de terceiros ou ambos?

  • 100% das empresas entrevistadas e observadas utiliza ambas as fontes de financiamento para capital de giro e investimentos;
  • A grande maioria (73.08%) tem mais de 80% do seu capital captado em fontes de terceiros, através de financiamentos de curto prazo, financiado a mais de 1% ao mês.

G.2) No caso de utilização de capital próprio, a empresa remunera os acionistas pela utilização deste capital?

  • 100 % das empresas pesquisadas não remunera os acionistas;
  • 76,82% (40) dos acionistas entrevistados acha que não deve ser remunerado pela empresa.

G.3) A empresa faz gestão de seu ciclo financeiro e conhece a sua necessidade da capital de giro?

  • 63,46% (33) das empresas pesquisadas não sabe o que é ciclo financeiro e necessidade de capital de giro;
  • Das que conhecem o conceito de ciclo financeiro e necessidade de capital de giro, apenas 1 empresa procura atuar de forma ativa nos componentes do ciclo financeiro de forma a melhorar sua gestão.

G.4) A empresa faz gestão do seu fluxo de caixa?

  • 88,46% (46) das empresas entrevistadas faz algum tipo de gestão do fluxo de caixa;
  • Apenas 23,08% (12) consegue pagar mais de 90% de suas obrigações em dia.

G.5) A empresa analisa periodicamente algum relatório contábil?

  • 59,62% (31) recebe da contabilidade apenas o balanço anual e os respectivos relatórios contábeis;
  • 23,08% (12) recebe o balancete mensal, porém, não faz análise deste relatório;
  • 13,46% (7) recebe o balancete mensal e DRE contábil e faz algum tipo de análise gerencial;
  • 3,85% (2) recebe balancete mensal, DRE contábil e DRE gerencial e faz algum tipo de análise gerencial.

G.6) A empresa conhece a sua estrutura de custos e despesas e o impacto dessa estrutura na receita?

  • 84,62% (44) desconhece totalmente ou parcialmente a estrutura de custos e despesas e seu impacto na receita.

G.7) a empresa conhece e acompanha os indicadores de Margem de Contribuição, EBITDA e Lucro Líquido?

  • 92,30% (48) não conhece e não acompanha;
  • 3,85% (2) conhece, mas não acompanha;
  • 3,85% (2) conhece e acompanha.

H) Algumas análises dos resultados encontrados na gestão financeira, capital e custos.

Pelos números apresentados, podemos observar que a grande maioria das empresas participantes da pesquisa desconhece totalmente os instrumentos de gestão financeira e de custos. Muitas, sequer analisam os relatórios que estão (ou deveriam estar) disponíveis na contabilidade.

Este desconhecimento e desinteresse pelas informações financeiras e contábeis, levam, inevitavelmente, a tomada de decisões erradas com relação a gastos, compras, precificação de produtos e serviços, gestão de contas a pagar e receber, gestão de estoque e produção e relacionamento com fornecedores e clientes.

Num momento em que estamos sofrendo uma competição internacional sem precedentes e, no mercado interno, clientes e fornecedores estão ficando cada vez maiores e poderosos, estes erros gerenciais podem ser fatais para a sobrevivência destas organizações no médio e longo prazos.

Do ponto de vista da gestão do capital, percebe-se que a maioria das empresas pesquisadas sofre das consequencias de uma gestão financeira amadora e equivocada. Por não compreenderem seus ciclos financeiros e a necessidade de capital de giro, vivem reféns de financiamentos caros de curto prazo que, em muitos casos, comprometem totalmente o resultado operacional alcançado.

Os acionistas, por sua vez, não compreendem que, ao colocar recurso próprio em suas organizações, seja por injeção de capital ou por abrirem mão do lucro, devem ser remunerados, como qualquer outra fonte de recurso que a empresa tem disponível para financiar suas operações.

Parte 2 – Gestão Estratégica

Nesta dimensão de gestão, procurou-se discutir os seguintes temas:

G.1) Quem são os responsáveis pelas decisões estratégicas da empresa?

  • Em 53,85% (28) das empresas entrevistadas todas, ou quase todas, as decisões estratégicas são tomadas pelos sócios ou pelos sócios e membros de suas famílias (quando existiam);
  • 30,77% (16) das empresas incluem algum membro da diretoria ou gestão nas decisões estratégicas;
  • 15,38% (8) têm algum tipo de comitê estratégico formal encarregado de discutir assuntos estratégicos

G.2) Por quantos ciclos de planejamento estratégico a empresa já passou?

  • 67,31% (35) nunca passou por um planejamento estratégico formal;
  • 19,23% (10) passou por pelo menos um ciclo de planejamento estratégico, mas não acompanhou as metas planejadas e não viu resultado do planejamento;
  • 9,62% (5) passou por mais de dois ciclos de planejamento estratégico, mas não acompanhou as metas, ou acompanhou em partes e não viu resultado dos planejamentos;
  • 3,85% (2) passou por mais de dois ciclos de planejamento estratégico, acompanha as metas planejadas e acredita que parte do resultado positivo alcançado advém dos planejamentos executados.

G.3) A empresa possui uma ideologia declarada (missão, visão, valores)?

  • Das empresas que passaram por pelo menos um ciclo de planejamento estratégico (17) 100% possui ideologia declarada;
  • Das empresas que não passaram por ciclo de planejamento estratégico formal (35), apenas 51,43% (18) possui ideologia totalmente ou parcialmente declarada.

G.4) Os gestores conhecem e divulgam e incentivam os colaboradores a cumprir a ideologia da empresa?

  • Apenas 23,53% (4) das empresas que passaram por pelo menos um ciclo de planejamento estratégico declarou que os gestores conhecem, divulgam e incentivam os colaboradores a cumprir a ideologia proposta.

G.5) A empresa tem como principal objetivo estratégico o alcance da visão declarada na ideologia?

  • Apenas 5,88% (1) das empresas que passou por pelo menos um ciclo de planejamento estratégico declarou que persegue sistematicamente o alcance da visão proposta na ideologia.

G.6) A empresa conhece claramente sua posição dentro do sistema de valor do seu setor e acredita que, com esta posição e suas ações gerenciais, conseguem capturar maior valor no seu setor?

  • 100% das empresas entrevistadas não conhece claramente sua posição no sistema de valor e acredita que não conseguem capturar maior valor.

G.7) A empresa utiliza a gestão por resultados (indicadores e metas)

  • 9,62% utiliza o sistema de indicadores, metas e acompanhamento de metas;
  • 90,38% não utiliza.

G.8) A empresa acredita que a lucratividade alcançada nos últimos dois anos está dentro da média, abaixo ou acima da média do setor?

  • 86,54% (45) acredita que sua lucratividade está dentro da média do setor;
  • 9,62% (5) acredita que sua lucratividade está abaixo da média do setor;
  • 3,85% acredita que sua lucratividade está acima da média do setor.

G.9) A empresa acredita que consegue ter preços relativos de seus produtos e serviços acima da média da concorrência?

  • 86,54 % (45) não consegue
  • 13,46 (7) consegue

G.10) A empresa acredita que consegue ter custos relativos de seus processos produtivos abaixo da média da concorrência?

  • 94,23% (49) não consegue
  • 5,77% (3) consegue

G.11) Quantos fornecedores da matéria prima (ou produto) chave a empresa possui?

  • 71,88 % (23) das indústrias possuem no máximo 2 fornecedores para as matérias primas e insumos chaves;
  • 50% (6) dos comércios possuem no máximo 2 fornecedores para as produtos chaves

G.12) Qual a relação entre número de clientes e faturamento?

  • 84,38% das indústrias está com mais de 70% do seu faturamento concentrado em no máximo 10 clientes
  • O faturamento do comércio e do serviço é bem mais pulverizado.

H) Algumas análises dos resultados encontrados na gestão estratégica.

Pelas análise das entrevistas e observações feitas nesta parte da pesquisa, percebe-se claramente que os empresários e executivos deste segmento empresarial, estão longe da compreensão básica da importância de uma gestão estratégica para as sua organizações.

Observa-se que a ideologia declarada não sustenta os objetivos estratégicos das organizações e a visão de futuro não está mito clara. As decisões estratégicas são normalmente pautadas em ações de curto prazo e os gestores dessas organizações não compreendem claramente o seu negócio e, consequentemente o seu papel dentro do sistema de valor do setor em que operam.

Convivem, de forma acomodada, com a dinâmica dos setores que operam e aproveitam, como podem e sabem, das vantagens (e desvantagens) que estes setores oferecem.

Seus produtos, serviços e toda oferta a eles agregada são comodites, suas práticas produtivas repetem às de todos os concorrentes do setor, e tais empresários e executivos, por desconhecimento, falta de recursos financeiros, falta de visão inovadora e falta de pessoas capacitadas, não são capazes de mudar tal realidade.

De forma bastante frequente e perigosa dependem de poucos e poderosos fornecedores e tendem a se acomodar (principalmente no setor industrial) a poucos e igualmente poderosos clientes.

Performance Gestão - [email protected]

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