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O futuro dos escritórios de contabilidade

O futuro dos escritórios de contabilidade

29/06/2015 às 11h38
Por: jornalcontabil
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Foto: Reprodução
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Entrevistador: Ronnie de Sousa

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Profissional de contabilidade, auditoria interna e controladoria, Bacharel em contabilidade, MBA em IFRS pela FIPECAFI/USP, sócio fundador do Portal Contábil Essência Sobre a Forma www.essenciasobreaforma.com.br com mais de 30 cursos de extensão universitária.

Entrevistado: Ailton Fernando de Sousa

Bacharel em Ciências Contábeis, Pós-graduado em Gestão Estratégica, Ex-professor do curso Técnico em Contabilidade do SENAC, exerce cargo de Gestão e Gerência de Contabilidade, Autor e coordenador de diversos livros de contabilidade.

Perguntas:

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[Ronnie de Sousa] Diante da expansão de grandes empresas na área contábil, especialmente no segmento de outsourcing, existe mercado para os tradicionais escritórios de contabilidade?

[Ailton Fernando] Não podemos decretar de fato o fim dos escritórios que não seguem a vanguarda, que não se modernizaram em termos de processos e de feedback à sociedade e especialmente a seus clientes, mas é possível prever que podem sofrer uma grande perda de clientes, especialmente empresas de médio e grande porte que necessitam de dados mais qualitativos, dinâmicos e formatados para suas áreas e mercados de atuação.

É provável que em um espaço de tempo não tão grande, tenhamos grandes empresas de contabilidade e pequenas empresas, comprometendo assim os escritórios que não investem em estrutura, tecnologia e bons profissionais.

Uma outra tendência forte, mas que desacelerou, por conta da crise, é a internalização da contabilidade, mesmo em empresas de nível médio, mas sob a batuta, sob o acompanhamento de um profissional experiente, muitas vezes advindo de escritórios de contabilidade. Digamos que está ocorrendo uma “seleção natural”.

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Isso também vêm ocorrendo com as empresas que desenvolvem ERP`s voltados para o seguimento contábil, quando grandes empresas acabam comprando pequenas empresas, ou empresas de software se alinham/unem com consultorias jurídicas especializadas, garantindo assim uma parceria que alia tecnologia e expertise jurídica/tributária.

Com a recessão que se instaurou , a sobrevivência dos pequenos e médios escritórios ficou ainda mais difícil, pois aumenta o grau de inadimplência, reduz a clientela (com empresas que fecham suas portas), com a exigências societárias, fiscais e tributárias falta dinheiro para o investimento em pessoas, tecnologia e conhecimento, logo, o processo transforma-se em uma grande bola de neve.

Duas alternativas podem ser consideradas: segmentação de clientela, ou união entre os escritórios pequenos para fortalecerem-se.

[Ronnie de Sousa] Ainda falando sobre mercado contábil, qual sua opinião sobre “contabilidade online”, é possível realizar um bom trabalho sem proximidade com o cliente?

[Ailton Fernando] O processo contábil é mais complexo e completo do que o simples registro; requer conhecimento do cliente, do ramo, do mercado, da estrutura , do processo além de constante contato e acompanhamento. A escrituração on line é uma opção a ser considerada, mas de forma moderada já que a mesma limita-se à escrituração de fato, e não ao processo como um todo.

Acredito que seja uma opção válida para o processo de classificação, reduzindo a mão-de-obra, mas deve se estender além dessa operação. Quando a consultoria contábil é contratada, geralmente o contrato prevê a escrituração contábil, fiscal, administração da folha de pagamento, envio dos tributos, confecção das obrigações acessórias, mas outros aspectos como planejamento tributário, orientação quanto a melhores opções de negócios, orientação administrativa, criação de controles internos, otimização de processos, revisão/criação de fluxos de caixas e outros “N” exemplos de atividades próprias do contador não podem ser definidas, criadas e difundidas de forma “on line”.

De fato, acredito que a escrituração possa ser realizada on line, porém, além da mesma ainda ter que ser revisada, no entanto, não vejo resultados satisfatórios para as demais etapas de todo o processo.

[Ronnie de Sousa] Os gestores e profissionais que atuam em escritórios de contabilidade estão preparados para enfrentar questões complexas da atualidade, como IFRS, SAT, e-Social, Bloco K, entre outros assuntos?

[Ailton Fernando] Ainda não estão; especialmente por conta do momento crítico o qual atravessamos (empresas fechando, inadimplência alta, dificuldades na contratação, etc...)e por conta da forma como essas novidades/exigências/obrigações são expostas.

Infelizmente as obrigações são apresentadas de uma forma extremamente impositiva, onde o tempo de preparo é insuficiente tanto para os empresários clientes quanto para os empresários e profissionais de escritórios contabilidade absorverem. O próprio Fisco, responsável pela criação e implantação tem dificuldades em lidar e orientar.

Na tentativa de compreensão e de atenderem a todas as exigências alguns gestores/empresários de escritórios buscam atualizações através de cursos e treinamentos, outros investem em ferramentas (softwares), porém, a grande maioria não tem a possibilidade de tempo e recursos para essas ações.

O grande problema é que mesmo os empresários/gestores de contabilidade que conseguem se qualificar e investir em tecnologia também têm grande dificuldade em atender todas as obrigações e exigências, porque boa parte dos dados devem ser gerados/reportados pelo cliente, e nem sempre o cliente tem essa condição, logo, existem problemas sérios nas duas pontas.

O IFRS era um desconhecido para grandes partes dos gestores, e apenas a partir de Lei 12.973/2014 passou ser mais amplamente difundido pela classe, porém, ainda não há consenso (apesar de necessário) da adoção, já que mesmo o modelo simplificado (ITG 1000) requer dados os quais nem sempre são disponibilizados aos escritórios, ou os empresários clientes não estão dispostos a investir no levantamento de tais (como por exemplo teste de recuperabilidade de estoques, ou impairment no bens do ativo), inda temos um desafio na implantação do IFRS, especialmente para PME.

O bloco K e o E-Social são exemplos de obrigações que necessitam quase que 100% dos dados gerados pelo próprio cliente e devem ser inseridos na rotina da empresa, logo, escritório de contabilidade, através de seus gestores necessitam reavaliar com os clientes quanto à responsabilidade pelo cumprimento dessas novas obrigações.

Via de regra, o despreparo é comum aos clientes e aos escritórios, e para amenizar essa situação deveria ser revisto todo o processo e formato de criação, exigência e educação quanto às obrigações; inclusive, até mesmo na constituição de um novo negócio/uma nova empresa o futuro empresário deveria se submeter a um treinamento que o preparasse para o empreendimento.

[Ronnie de Sousa] De que forma a crise econômica que estamos vivendo esta atingindo os escritórios de contabilidade? Existe uma forma de driblar a crise neste segmento?

[Ailton Fernando] Infelizmente os reflexos são os piores, porque a inadimplência e o fechamento de empresas reduz as receitas e forçam os escritórios a reduzirem suas estruturas, principalmente com demissões.

O grande problema é que as demissões acabam não resolvendo o problema, pois quando a empresa decide encerrar suas atividades já não possuem recursos para honrar as dívidas existentes inclusive com os escritórios.

A crise chegou no pior momento possível, já que para manter a clientela o escritório precisa realizar investimentos e contratações que garantam a qualidade e pontualidade da informação e cumprimento das obrigações; o que percebemos é o encolhimento dos escritórios e a aposta em outras áreas, como por exemplo, a administração do financeiro (contas a pagar/receber e fluxo de caixa) de clientes, correspondentes bancários , terceirização de áreas internas (TI, por exemplo)para reduzir custos.

Como driblar a crise? Dando motivos para que o cliente perceba o quanto é necessária a participação e o trabalho do escritório; sendo parceiro e atendendo as necessidades com pontualidade e agilidade (dentro do que lhe compete)e, se for o caso, trazendo a possibilidade, se necessário, de flexibilidade em uma eventual negociação, mas a oferta de outras atividades, como administração do financeiro, outras opções tributárias que possam resultar em economia têm trazido bons resultados.

[Ronnie de Sousa] Trabalhar em uma grande empresa, concurso público ou abrir um escritório, qual conselho você deixa para os jovens profissionais de contabilidade que estão se formando.

[Ailton Fernando] É preciso seguir a vocação. Um profissional de contabilidade por natureza já tem características inerentes á profissão, como percepção, leitura constante interpretação são algumas dessas características, porém, outros fatores muito pessoais devem ser levados em consideração na condução da carreira, inclusive o fator financeiro também.

Geralmente a opção por um concurso público é uma escolha mais segura, estável e que não apresenta grandes alterações de rotina.

Um escritório de contabilidade pode ser algo mais desafiador, de acordo com a clientela, que geralmente é pulverizada, e força o profissional a ser muito generalista e bem integrado/adepto à leitura, isso apenas no âmbito técnico, sem mencionar a questão da administração de pessoal (equipe) e a busca por novos clientes e todos os aspectos administrativos e financeiros recorrentes a todo empreendendor.

O trabalho em uma grande empresa pode ser o meio termo entre uma rotina e desafios constantes, no entanto, pode ser uma atividade que iniba o desenvolvimento do profissional, que certamente terá que obedecer regras, hierarquia e percorrer um caminho longo para formação de um plano de carreira.

O ideal seria poder participar das três experiências, para que o profissional pudesse desenvolver uma carreira segura e consistente, de acordo com situações reais e vividas, mas provavelmente não haverá espaço e tempo para esse tipo de experiência, logo, cabe ao profissional questionar, ler, observar e interpretar os prós e contras para as três opções, ter percepção de sua personalidade quanto às características apresentadas, verificar sua necessidade financeira, e seja qual for a opção escolhida, esforçar-se ao máximo, demonstrar disponibilidade, buscar conhecimento contínuo, ou seja, jamais acomodar-se.

[Ronnie de Sousa] Deixo este espaço para sua conclusão

[Ailton Fernando] Acredito que espaços como esse, onde temos a oportunidade de relatar nossas experiências e opiniões são essenciais para conhecimento e formação da opinião de vários membros da sociedade a respeito de aspectos e situações as quais nem todos têm o devido conhecimento, pois não fazem parte da convivência da maioria.

Informações, esclarecimentos e discussões úteis que poderão e influenciarão a decisão tanto de profissionais recém formados, quanto dos mais experiências e no mais variado nível de hierarquia.

Apesar do momento de crise, é oportuno informar a valorização moral e crescimento da participação dos profissionais de contabilidade no mercado, especialmente nos conselhos de administração, a partir da adoção ao IFRS, e mesmo o país indo na contramão, podemos nos orgulhar dessa conquista.

No entanto, carecemos de uma classe contábil mais participativa no cenário econômico, social e político, com mais parcerias com órgãos (como OAB) e mais representantes no Governo, porque somos parte essencial dessa sociedade, especialmente no âmbito da arrecadação e fiscalização.

Por fim, é por ter vivido profissionalmente por 22 anos em consultorias contábeis que continuo desenvolvendo métodos, processos e ferramentas que buscam facilitar a vida dos escritórios e atender de forma adequada, eficiente, rápida menos custosa e mais qualitativa tanto Fisco quanto cliente. (Com Portal www.essenciasobreaforma.com.br)

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