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Principais dificuldades de acesso a empréstimo bancário

Principais dificuldades de acesso a empréstimo bancário

27/07/2020 às 01h00 Atualizada em 27/07/2020 às 04h00
Por: Gabriel Dau
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Se você é empreendedor de micro ou pequena empresa com certeza buscou empréstimo bancário em alguma linha de crédito neste tempo de crise.

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Há uma grande possibilidade de ter tido acesso ao dinheiro negado, ou mesmo conseguido um valor inferior ao necessário.

Mas porquê isso aconteceu?

Segundo o economista Alessandro Azzoni, 4 dificuldades limitam o acesso a empréstimo para as micro e pequenas empresas.

  • Situação fiscal;
  • Maquiagem Financeira;
  • Capital Social Desatualizado;
  • Não Participação de Bancos Privados.

Em conversa com o Blog FoxManager, ele explicou que, por ser dinheiro federal, de fato existe uma exigência maior, e os quatro fatores acima têm uma enorme influência na obtenção do empréstimo.

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“O governo não pode criar incentivos sem levar em consideração os critérios básicos: adimplência tributária e fiscal” diz Alessandro Azzoni.

Situação fiscal das empresas

Uma das maiores dificuldades enfrentadas é a própria regularização das micro e pequenas empresas.

A maior parte desses empreendimentos estão dentro do regime Simples Nacional, que abarca tributos municipais, estaduais e federais.

Contudo, antes da pandemia, as empresas já vinham tendo dificuldade em estar regularizadas com o fisco.

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Dessa forma, grande parte das interessadas tem empréstimo negado por já possuírem problemas fiscais e de endividamentos anteriores à pandemia.

Isso vai de encontro com a natureza dos programas que visam ajudar empresários que passam por momentos críticos durante a pandemia.

“Muitas dessas empresas já vinham de uma situação pós-crise [2018] onde evitavam o recolhimento de impostos, retardavam ou entravam em uma renegociação de empréstimo e impostos. A questão fiscal traz muito problema”, disse Alessandro Azzoni, economista e professor de direito tributário.

As empresas deste porte enfrentam as mesmas exigências solicitadas das grandes, que tomam empréstimo do BNDES.

Ou seja, estar em situação de débito com o fisco já significa a negação do empréstimo no primeiro contato.

Pronampe

O Pronampe, tem como público alvo as microempresas e empresas de pequeno porte, com faturamento até R$ 4,8 milhões por ano.

Ainda assim, o acesso ao empréstimo passa pela análise de crédito das empresas, e a partir daí existe a dificuldade inicial.

“No período da pandemia, uma das medidas do governo federal foi proibir a negativação das empresas por 90 dias [essa data foi prorrogada] e protestos. Isso significa que o mercado de crédito trabalha com uma obscuridade muito grande de informações. A obtenção dos recursos é dificultada no momento da análise de crédito. Os bancos não sabem se as empresas estão negativadas, se elas estão sendo boas pagadoras, bem como se elas terão capacidade de honrar o crédito tomado”, comenta Azzoni.

Maquiagem financeira

Com o intuito de evitar gastos com tributos, por vezes o empreendedor comete o erro de não emitir, por exemplo, notas fiscais sobre todo o seu faturamento.

É algo cultural que acompanha a existência da iniciativa privada no país.

No entanto, isso acaba por criar uma maquiagem financeira da empresa, o que limita seu acesso ao empréstimo em momentos de crise como esse.

O Pronampe garante 30% de crédito sobre o faturamento bruto declarado da empresa do ano de 2019. 

Vamos supor que sua empresa tenha faturado R$ 1,5 milhão no ano passado, mas você declarou para a Receita Federal ter faturado apenas R$ 500 mil.

Você até conseguiu o empréstimo, mas apenas sobre o que foi declarado, pois o faturamento real não existiu.

Provavelmente é um valor muito inferior às reais necessidades da empresa.

Em outras palavras, a demanda por capital de giro, saneamento de despesas fixas e a responsabilidade com a folha de pagamento fica comprometida com o crédito obtido.

Descompasso com a carga tributária

Sem fazer juízo de valor a respeito da sonegação, a carga tributária no Brasil é realmente alta. Mas em momentos como esse, a legalidade das operações financeiras da empresa faz a diferença.

“A carga tributária não é uma justificativa para a sonegação. Mas as empresas sempre tiveram um grande concorrente que é o próprio governo. Trabalha-se por três ou quatro meses no ano para pagar os tributos exigidos para somente depois começar a ter lucro. O setor empresarial de atividades econômicas sofre mais ainda por conta dos impostos sobre bens de consumo. Quando o empreendedor compra insumos que fazem parte de sua atividade ele já vem taxado e sobretaxado, pois não existe compensação tributária nessas áreas. Isso significa que não há sonegação por uma questão de maldade, mas sim por uma questão de sobrevivência. Se ela paga o tributo ela não sobrevive, e se ela não sobrevive não tem tributo”, analisou Anozzi.

empreendedorismo

Formalização de informações desatualizada

Uma micro ou pequena empresa geralmente inicia com um capital social modesto, justamente para dar o start no empreendimento.

Estamos falando de R$ 1 mil, ou R$ 10 mil subscritos na constituição da empresa na Junta Comercial do estado.

Mais uma vez, com receio de perder vantagens no regime tributário pelo qual a empresa optou inicialmente, ou por pura displicência, o capital social do empreendimento não é atualizado.

A realidade é que a empresa já possui operações bem mais robustas do que a formalização de informações registra.

Conforme a empresa cresce, além de contar com uma estrutura adequada para que isso aconteça de maneira sustentável, atualizar as informações sobre seu negócio é igualmente necessário.

“Se o seu capital social é pequeno, obviamente você terá seu recurso por empréstimo diminuído substancialmente, não atendendo a sua necessidade atual”, atenta Azzoni para a necessidade da normalização das informações.

Normalização de informações

normalização de informações sobre a sua empresa diz respeito a tudo o que envolve sua estrutura física e operacional.

Significa atualizar informações desde seu lançamento contábil, seu inventário, suas vendas e tudo o que for escriturado.

“Se o empreendedor tiver um restaurante, ele precisa emitir o cupom fiscal de tudo, por exemplo. Mas vai além, é necessário fazer declarações de imposto de renda, estar com todas as suas responsabilidade acessórias em relação aos tributos em dia. Isso é importantíssimo”, disse o economista.

Base de arrecadação

Azzoni aponta que o empresário não deve supor que essas informações dizem respeito somente à base de arrecadação em si.

“A base de arrecadação é a coisa mais importante quando se trata de linha de crédito de recurso federal. Ela vem justamente baseada e lastreada em informações da Receita Federal, comenta.

É a Receita Federal que envia um informativo sobre o faturamento de 2019 para pequenas e micro empresas, via portal do Simples Nacional ou e-CAC.

Mais uma vez, se o empresário omitiu informações sobre o tamanho real da empresa, o que também implica no faturamento da mesma, ela terá um acesso mais limitado ao crédito do que de fato precisa.

“Atualizar a formalização de informações é muito importante para não se tornar um empecilho. Desde a declaração de receita mensal, o recolhimento de impostos até não dever tributos”, continuou.

Não participação de bancos privados

Entre os programas de linha de crédito além do Pronampe estão o Pese (Programa Emergencial de Suporte ao Emprego) e o Fampe (Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas).

No entanto, estes estão ligados à Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil

Isso foi um empecilho grande para a maioria dos empreendedores que não possuem conta nessas instituições.

Ampliar a base de distribuições de empréstimo para bancos privados é essencial para o sucesso desses programas.

“A velocidade da operação na Caixa Econômica as vezes não é agressiva. Muitas empresas preferem operar com bancos mais agressivos nesse sentido como Santander, BradescoItaú ou HSBC. São bancos comerciais com política de mercado mais arrojada, e os empresários tendem a preferir trabalhar com esses bancos”, explicou o economista.

Como essas instituições bancárias ficaram de fora no primeiro momento, os empréstimos concedidos foram tímidos.

Liberação via BNDES

Com o intuito de mudar esse cenário, Guilherme Afif Domingos, assessor do Ministério da Economia anunciou no último dia 15 de Julho o aporte de R$ 16 bilhões do Tesouro Nacional e BNDES para a linha de crédito do Pronampe.

Espera-se que o novo aporte de recursos no Pronampe aconteça por meio de medida provisória a ser editada até o fim desta semana.

Mas atenção com a taxa de juros!

“Com o ingresso dos bancos comerciais fiquem atentos sobre custos financeiros. Eles [bancos] vão tentar colocar algumas taxas, como a de aprovação de crédito, o que vai acabar saindo mais caro que 3,5% ao ano. A taxa do Pronampe é fixa em 1,25% mais a taxa Selic, que é variável. Não existem quaisquer outros custos de operação”, alertou Anozzi.

Conclusões

São em tempos de crise que o empreendedor percebe o quão importante é manter a saúde financeira e fiscal da empresa em dia.

Não se deixar levar por vícios na hora de realizar a gestão financeira e contábil, pois elas  fazem a diferença nesses momentos.

“Por vezes o empresário acaba fazendo uma ‘barrigada’ ao deixar dívidas com o fisco correrem sem qualquer controle em busca de, à frente, conseguir algum plano de anistia onde ele faz um parcelamento dessas dívidas. Ele deixa de pagar 1 ano ou alguns meses para posteriormente entrar na renegociação. Isso virou praxe dentro da economia. Só que num momento de crise, os registros financeiros e contábeis das empresas são importantes para obtenção de crédito. Ainda mais recursos federais. Vale o mesmo para empresas que tentam crédito com o BNDES. São os mesmos tipos de informação. Há a verificação de recolhimento de INSS, Previdência Social, impostos federais sobre importação e exportação, imposto de renda e ICM. Se a empresa está sadia na parte fiscal, se avança para a parte contábil” finalizou o economista Alessandro Anozzi.

Por fim, caso a documentação da empresa esteja correta, mas o pedido foi negado, o empresário tem o direito de recorrer a outra instituição financeira.

Fonte: FoxManager

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